Nas relações humanas existem leis que as regulam. Uma delas é a Lei do Equilíbrio de Troca ou Equilíbrio entre o Dar e o Tomar. O desiquilíbrio em uma dinâmica de pares ocorre, quando uma pessoa doa muito e não recebe, enquanto a outra recebe e nada retribui. Exemplifico com um tema muito comum na relação de pais e filhos: a mesada. A mesada é uma forma de colaborar com a criança para que aprenda a lidar com o dinheiro. É um ato natural, visto que nesta fase da vida dos filhos os pais estão doando bastante e os filhos não têm como retribuir porque são crianças. No entanto, com o excesso de doação, os filhos recebem, como informação sistêmica, que eles “não são capazes” por si só, e acreditando nesta informação eles seguem sem conquistas próprias e, o pior, acreditando que os pais devem ser os responsáveis por satisfazer todas as suas necessidades. Aqui podemos falar também sobre o amor cego, aquele imbuído da intenção amorosa de proteger e cuidar dos filhos, fazendo de tudo para que eles não passem pelas mesmas privações ou dificuldades que os pais passaram.
Esse amor se difere do amor exigente, que ama e reconhece que para aprendermos a lidar com fracassos, frustrações e dificuldades, é importante as experiências, que os filhos precisam aprender que para toda ação existe uma reação. E como se sente o filho excessivamente protegido? Livre ou sufocado?Desta forma, vemos que no campo dos relacionamentos humanos, dos grupos sociais, quando alguém dá algo, o outro fica devendo e precisa retribuir para que haja equilíbrio. E a lei se aplica também na troca de ações, como a gentileza e a caridade entre as pessoas. A pergunta nesses casos é: a pessoa que recebe está retribuindo de alguma forma? Ela está grata e fazendo ações que compensem o recebimento? As ações podem ser simples como no caso da mesada, atribuir ao filho tarefas domésticas, algo que faça a pessoa recebedora se sentir merecedora e grata pela doação, retribuindo do seu jeito. O receber sem possibilidade de retribuir, degrada e enfraquece, fazendo com que a pessoa desmereça o que recebeu e aja com ingratidão, tentando inconscientemente inferiorizar quem deu demais para que ela saia da sua posição de superioridade e seja possível uma troca de igual para igual.Uma situação que comumente observo nos processos de divórcio e partilha de bens, são os casais que se divorciam e colocam o patrimônio no nome dos filhos, com cláusula de usufruto, como solução para a partilha. Este fato gera desordens e não raras vezes conflitos graves, afinal, não é uma doação concreta e os filhos são usados como âncora de solução e ficam incapazes de retribuir, mesmo porque não pertencem ao relacionamento de casal e não são partes no processo de partilha.
E falando sobre relacionamentos de casal, observo que quando um dá e o outro só recebe, isso gera uma tensão dentro da relação, uma vez que o formato da relação não é mais lado a lado, e sim de um é mais e o outro é menos, de que um é bom e o outro ruim, de que um sabe mais e o outro menos, e assim por diante. O que só recebeu ou recebeu demais se torna quase como um filho para o outro e o afastamento começa a surgir. E o que deu demais e espera uma retribuição, alimenta dentro de si uma reivindicação. É natural que esses sentimentos não revelados sejam exteriorizados através da raiva ou fuga. Raiva para diminuir o outro e igualar a relação, ou fuga para buscar um relacionamento onde o dar e o tomar possa estar em equilíbrio. E aqui não estamos falando de dinheiro. Em qualquer relacionamento de casal, é perfeitamente natural que um produza mais economicamente, execute mais tarefas domésticas, cuide mais dos filhos e assim por diante. A questão é encontrar nas funções um equilíbrio suficiente para que ambos possam se sentir leves, importantes e pertencentes ao sistema. Ou seja, aquele que recebe precisa retribuir dando alguma coisa e o que recebe volta a oferecer algo e assim o relacionamento cresce na troca de sentimentos ou atitudes, e, portanto, o vínculo se mantém fortalecido e abastecido.
Da mesma forma, o equilíbrio entre o dar e o tomar serve para os relacionamentos no trabalho. Podemos falar do patrão que dá muito e cobra pouco, do empregado que executa demais e recebe de menos. Em algum momento os elementos da relação sentem a tensão e os papéis já não são mais de uma relação de trabalho, podendo se configurar tanto em uma relação de pai e filho, como até mesmo em uma relação de escravo e carrasco. E os sentimentos que surgem a partir desse novo formato vão depender das crenças e memórias individuais.
A questão é que nessa relação desequilibrada não se trata mais das regras de uma relação de trabalho. Um bom patrão é aquele que contrata um funcionário para executar tarefas claras e que pague por esse serviço um salário adequado, contratado e justo. Quero dizer, se o empregador contrata um funcionário para trabalhar 8 horas por dia por um salário X, o desequilíbrio acontece se o empregado trabalhar com frequência 10 horas por dia e continua recebendo X, sem o acréscimo das horas extras.
O desequilíbrio, provocado pela quebra das regras no dar e tomar, provoca tensão incapaz de sustentar o relacionamento. Assim também se o empregado não cumpre o horário e não executa as tarefas com excelência, ao receber o salário integral, como se cumprisse todas as regras, faz surgir o desequilíbrio. E a tensão é ainda maior se esse empregador passar a dar coisas além, sem que o empregado possa de alguma forma retribuir esse acréscimo.
E por falar em relacionamentos profissionais, interessante olhar para a relação cliente-advogado. Identificar na linguagem do cliente a sua necessidade, evita dissabores provocados não raras vezes, pelo desequilíbrio no dar e tomar. Alguns clientes têm o hábito de transferir para o advogado a cobrança que deveria ser direcionado à outra parte envolvida e assim, querem do advogado mais do que ele está disponível para oferecer. Advogados facilitam soluções para os conflitos, são indispensáveis para a justiça e exercem atividades de meio, não de resultado. O resultado, o melhor resultado, está no sistema do próprio cliente. Ou ele ou a parte contrária tem a solução.
E o cliente em equilíbrio acolhe também a estrutura do poder judiciário, reconhecendo suas falhas e deficiências, e não transfere para o advogado a sua dor, frustração ou raiva pela demora na prestação jurisdicional. Esse cliente toma do advogado aquilo que lhe cabe, porque o profissional soube dar e tomar de forma justa e equilibrada. É importante mantermos a postura profissional, acolhendo o cliente, vendo as partes e os elementos de seu conflito, mas utilizando para isso os recursos e ferramentas que temos disponíveis. E nesse sentido, por experiência profissional, alerto para o uso das constelações familiares no exercício profissional da advocacia. Não se trata de uma técnica aprendida simplesmente nos livros e cursos. Quando o profissional não tem segurança, permissão interna e profundo conhecimento teórico e vivencial das leis sistêmicas, corre-se o risco de o advogado transformar-se em conselheiro ou terapeuta. O advogado tem postura sistêmica e competência para utilizar as ferramentas sistêmicas na facilitação de uma solução, mas ele não é um terapeuta e nem um constelador. E quando o advogado além de consultor jurídico e procurador do cliente, se transforma em terapeuta, é consequência natural que a relação fique desequilibrada pela própria natureza da contratação e pelas regras do jogo estabelecidas, na qual o cliente está retribuindo financeiramente apenas os serviços do advogado.
Por último, vou falar dos relacionamentos sociais como a amizade. Inicialmente o que une dois amigos são as afinidades. Somos atraídos pela empatia que nutrimos por alguém a partir dos nossos canais de comunicação. No entanto, esse gostar por si só é insuficiente para manter uma amizade em equilíbrio. No relacionamento entre amigos há mais do que o ato altruísta e generoso de oferecer aos amigos lembrancinhas de viagens, jantares e atenção. Receber é um direito e uma necessidade que alimenta a relação. Em um relacionamento positivo e com reciprocidade ambos estão disponíveis para a amizade e ambos se sentem livres para dar e tomar. A comunicação é respeitosa, prazerosa, leve para ambos os lados. Se um dos lados tem como amigo uma pessoa gentil e generosa, mas retribui de forma grosseira e egoísta, a amizade pode até durar um certo tempo, e até muito tempo caso essa relação envolver sobreposição de contextos pessoais, mas, certamente não é um relacionamento saudável e equilibrado. Claro que, ninguém é obrigado a dar o que não tem, no entanto, se essa pessoa toma muito, usufruindo apenas das benesses da amizade, esse relacionamento tende a ficar tenso, desconfortável e difícil para uma ou para as duas partes. E aqui, não se trata de culpados e inocentes, uma vez que podemos dizer que quem dá demais, às vezes, não sabe tomar. Logo, não se trata de que o recebedor não saber dar, mas sim, do doador não saber receber. Aqui falamos do equilíbrio para uma amizade positiva e duradoura.É muito linda a teoria do “dar sem receber nada em troca”. No entanto, uma coisa é caridade e benevolência, outra coisa é relacionamento. Em um relacionamento o equilíbrio de troca é uma lei sistêmica. Imaginemos que em uma relação, cada um de nós tenha uma bacia, e durante o relacionamento fossemos enchendo de coisas. Se uma bacia com o tempo permanecer cheia até o topo e a outra vazia, quais os sentimentos que brotam? O que carrega a bacia vazia se sente prejudicado, injustiçado e com sentimento de reivindicação. O que carrega a bacia cheia se sente pesado, carregado, cansado e com sentimento de querer dar algo para se aliviar.Quer um relacionamento saudável e positivo? Observe a lei do dar e tomar. Não cobre muito e nem pouco, não exija mais do que outro pode dar e nem ofereça pouco e nem muito. Para que um bolo cresça e fique saboroso, não basta amor, normalmente você segue uma receita, medidas mais ou menos equilibradas, mesmo que seja de cabeça. O relacionamento entre pares de certa forma também precisa de medidas certas e adequadas para crescer e ser saborosamente feliz e próspero.Vamos lá, praticar a arte de construir e manter bons relacionamentos.
Advogada desde 1992 posso dizer que encontrei meu propósito de vida nas Constelações. Atualmente me sinto realizada como advogada, consteladora e professora.
FAQ – Politica de Privacidade – Termos e Condições
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1. O pensamento sistêmico
1.1 Esculturas familiares de Virginia Satir
1.2 Psicodrama de Levy Moreno
1.3 Ressonância Mórfica de Rupert Sheldrake
2. As leis do amor de Bert Hellinger
2.1 Lei do Pertencimento
2.2 A Lei da Hierarquia
2.3 Lei do Dar e Tomar
3. A advocacia e o Direito Sistêmico
4. As consciências de Freud e Jung
5. As constelações sistêmicas
5.1 Constelação Sistêmica Familiar e Empresarial Fenomenológica
5.2 Constelação Sistêmica Estrutural
6. Pressupostos do atendimento sistêmico
6.1 Pensamento sistêmico
6.2 Presença
6.3 Percepção sistêmica
6.4 Postura sistêmica
6.5 Linguagem sistêmica: frases e perguntas
6.5.1 Frases e perguntas vazias
6.5.2 Frases e perguntas pesadas
6.5.3 Frases e perguntas reveladoras
6.5.4 Frases e perguntas de solução
7. Condições do atendimento sistêmico
7.1 Local do atendimento: ambiente seguro
7.2 Ficha do cliente
7.3 Diálogo preparatório
7.4 Contrato de honorários: equilíbrio de troca
8. Recursos e intervenções
8.1 Respiração
8.2 Sentimentos
8.3 Sintomas ou Sinais
8.4 Imagem inicial do tema ou do conflito
8.5 Pergunta milagre
8.6 Perguntas por exceção
8.7 Perguntas de escala
8.8 Exercício “Bem-vindo, sintoma”
8.9 Mão cataléptica
8.10 Resolução de contexto
8.11 Frases de intervenção
8.12 Constelação dos dois mundos
8.13 Ferramenta do relógio
9. Conclusão do atendimento sistêmico
9.1 Atividades pós-atendimento
10. Formatos específicos possíveis
10.1 Constelação individual
10.2 Constelação da solução milagre
10.3 Constelação dos nove quadrados
10.4 Constelação do dilema e do Tetralema
10.5 Constelação das Quatro Casas de Mudança (C. Janssen)
11. A Advocacia e as Práticas Sistêmicas: especialidade ou outra atividade?
12. Casos práticos
12.1 Dissolução de vínculo conjugal
12.2 Pedido de demissão
12.3 Venda de imóvel em condomínio
12.4 Vínculos Interrompidos
12.5 Relacionamento de Casal
12.6 Consultoria Jurídica sobre empresa e locação
Primeiramente, antes de falar desta obra tão essencial aos profissionais do Direito, quero agradecer a querida Bianca Pizzatto Carvalho, por estar a serviço de nossos sistemas, e por me fazer tão honroso convite para escrever este prefácio. Sinto-me grata por fazer parte de uma obra que alcança não somente os profissionais, mas seus corações.
Atualmente, muitos profissionais, que se viam distanciados daquilo que é a essência do Direito, e já descontentes e desmotivados com a postura ganha-perde, clientes insatisfeitos, judiciário abarrotado, depararam-se com um novo paradigma do Direito – o pensamento Sistêmico e as Constelações Familiares.
Com esta nova abordagem, muitos começaram a voltar para a profissão, agora sentindo-se pertencentes, no seu lugar e encontrando equilíbrio na vida pessoal, profissional e nas relações.
Surge uma nova visão de mundo mais ampliada, com mais respeito pelos clientes e seus sistemas. Uma nova atitude profissional que une a postura e pensamento sistêmicos com o Direito. Clientes e profissionais assumem suas responsabilidades, sem carregar pesos uns dos outros, e cocriam uma boa solução que atenda às necessidades internas e mais profundas do cliente.
O advogado facilita o processo de consciência de projeções, padrões e crenças que podem estar impedindo o fluxo da melhor solução para o cliente.
Neste livro, a amiga e advogada Bianca, numa atitude corajosa, traz de forma leve, simples e prática suas experiências e abordagens utilizadas no dia a dia profissional, facilitando o entendimento sobre as práticas sistêmicas na Advocacia e no Direito.
Nestas páginas, senti-me caminhando pela minha própria história, quando estava em busca de algo maior que me motivasse a continuar nesta empreitada, até me deparar com as práticas sistêmicas.
Aqui poderão refletir sobre o seu papel profissional e de ser humano, além de encontrar ferramentas simples e de real aplicação, testadas durantes anos de trabalho e de estudo.
Neste livro, de forma cuidadosamente amorosa, a querida autora nos conduz ao autoconhecimento, à compreensão dos princípios sistêmicos, ao entendimento de contextos e relações para, depois, aplicar a técnica.
Acredito que vocês, queridos leitores, sairão satisfeitos desta experiência inovadora e encontrarão uma nova forma de pensar, sentir e agir que lhes trará resultados além da profissão, serão para sua vida e em prol da vida.
Um livro para profissionais que estão em busca de um novo sentido. E talvez seu sistema o tenha conduzido até aqui!
Seja bem-vindo! Gratidão.
Fabiana Quezada